Pesquisar este blog

sexta-feira, 24 de março de 2017

Gosto de pensar a vida como aquela forma para escrever poemas dadaístas, onde vamos retirando do saco do cotidiano os acontecimentos e personagens da nossa narrativa. A grande questão é como fazer divisão de personagens, na literatura temos, razoavelmente claro, quem é o principal e quem são os secundários, na vida, essa classificação se torna mais difícil, é preciso definir com cuidado. Algumas pessoas – personagens - a presença tem muita relevância e estarão presentes até o final, enquanto outras, são cuidadosamente colocadas no texto (existência) de maneira estratégica para dar mais sabor aos momentos essenciais. O problema é que nunca sabemos de antemão sua relevância.
A angústia da vida, às vezes, está em não poder escolher o que iremos retirar do saco, não saber que direção tomar ou quais argumentos escolher... e poucas coisas são tão dolorosas e libertadoras quanto aquele momento em que tomamos a decisão de confiar nas próprias asas e voar. Pode ser para longe ou perto, mas o fato é que é preciso de um bocado do sonho surrealista para escrever o voo da própria narrativa, o que, muitas vezes, é mais difícil do que se pode imaginar.
Alçar voo é mudar. Então, o primeiro princípio da dinâmica ou da inércia já serve como pista da resistência que qualquer corpo (pessoa) oferece frente à mudança. Transformar-se requer arrancar a raiz do solo inerte e dar-lhe asas, impulsionando-se tanto vertical quanto horizontalmente,erguendo-se e jogando-se para a frente de forma simultânea.
A graça do voo existencial está em saber deixar algo para trás,como uma raiz que se desprende do solo. Voar não é levitar. Levita quem não tem peso, não tem bagagem. Voa quem sabe espalhar as asas, equilibrando o peso de uma história vivida deixando, assim, de sentí-la em um só membro. O voo é o próprio peso existencial transformado em ar.
Portanto, como em um bom livro, não há problemas em escrever situações coadjuvantes, o problema reside em nos perdemos por não conseguirmos perceber que a trama que está secando, tornando-se casulos de asas, sufocados em forma de raiz, que é preciso retirar palavras (acontecimentos) do saco para continuar escrevendo uma boa história...

Nenhum comentário:

Postar um comentário