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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas


(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 23 de julho de 2017

Saudades

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!


Florbela Espanca, do livro “Sóror saudades”.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Subversiva

A poesia

Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.


(Ferreira Gullar)

segunda-feira, 17 de julho de 2017

"A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio"


Manoel de Barros

domingo, 9 de julho de 2017

"Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?"

Mário Quintana


terça-feira, 4 de julho de 2017

Metas de Leitura - Julho/2017

Buenas,


Minhas metas de leitura para julho estão tão audaciosas  que decidi postar para "dar uma pressãozinha no cumprimento", não vou mentir: duvido que consiga cumprir, mas isso não quer dizer que não tentarei com afinco!

Chega de “mimimi” e vamos a lista dos livros:





Titulo: A Fúria dos Reis

Autor: George R. R.Martin

Editora: Leya

Páginas: 656

Este livro estou lendo com alguns amigos (malucos) que decidiram ler toda a saga até o final do ano – em junho lemos o primeiro: A Guerra dos Tronos – estou adorando a leitura, mesmo neste ritmo alucinado, hehe.



Titulo: O Feitiço da Sombra

Autor: Nora Roberts

Editora: Arqueiro

Páginas: 288

Embora não seja meu estilo de leitura, eu sempre me rendo para as histórias que envolvem magia, acho a autora muito óbvia e as histórias sempre possuem o mesmo “esqueleto”, não me desafiam, mas me fazem suspirar... então vale!



Titulo: Medo Clássico

Autor: Edgar Allan Poe

Editora: Darkside

Páginas: 384

Esta leitura será para a discussão do Clube de Leitura da Casa de Cultura Mário Quintana do qual participo. Este mês iremos ler os contos do Poe, já li O gato Preto e simplesmente adorei, estou louca para ler o resto!



Titulo: Vida e Destino

Autor: Vassili Groissman

Editora: Alfaguara

Páginas: 920

Esta será uma leitura coletiva com o pessoal dos blogs Lido Lendo e Livrada, sem contar que é uma leitura obrigatória do Desafio Livrada 2017.



Titulo: Vinte Mil Léguas Submarinas

Autor: Julio Verne

Editora: Zahar

Páginas: 504

Acho que um dos poucos clássicos da literatura que não tinha “aquela” vontade de ler, embora só ouça elogios da obra. Vou ler para a discussão do Clube do Livro Online.



Titulo: Olhos Dágua

Autor: Conceição Evaristo

Editora: Pallas

Páginas: 116


A biblioteca pública municipal de Porto Alegre promove o grupo de leitura “Leia Mulheres”, onde todo mês lemos e debatemos livros de autoria feminina, um lindo e delicioso projeto.




Me desejem sorte, pois vou precisar!!!!

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais do que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros