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segunda-feira, 8 de abril de 2019



Menino de engenho é uma autobiografia das cenas da infância de José Lins do Rego. Segundo depoimento do próprio autor, a sua intenção, ao elaborar a obra, era escrever a biografia do avô, o coronel José Paulino, a quem considerava uma figura representativa da realidade patriarcal nordestina.O romance foi publicado em 1932 e financiado pelo próprio escritor.

Narrado em primeira pessoa, conta a história de Carlinhos que, após o pai ter assassinado a mãe, vai morar no engenho de seu avô materno.

Pelos olhos saudosistas do personagem vamos conhecendo um pouco sobre a vida no engenho, as tensões sociais envolvidas em um ambiente de tristeza e decadência do ciclo da cana-de-açúcar. 

A obra também traz um tema recorrente no Nordeste, a seca do sertão, onde transparece as dificuldades enfrentadas pelas secas e chuvas em excesso, a perda dos alimentos e de grande parte dos bens materiais do povo.

Percebemos que engenho acaba sendo um personagem no romance, tal sua importância afetiva.

O autor utiliza uma linguagem simples e direta, própria de um menino; caracterizada por ser extremamente espontânea, passando pelos sonhos, medos, curiosidades e amores, a solidão do menino é bastante evidente.

Pela ausência de orientação, aos 12 anos de idade, tem sua iniciação sexual e acaba por contrair doenças sexualmente transmissíveis, que eram comuns e até vistas como uma forma de “troféu”.
Outros pontos que chamam a atenção e podem incomodar, é a fala machista do personagem, assim como a forma romântica que é descrita a situação dos escravos. Em vários momentos somos obrigados a acompanhar um pensamento machista, infelizmente, característico da época e do meio em que ele vive - é muito importante ler com essa consciência do pensamento do período.

Gostei de ver as superstições e crendices comuns que povoavam o imaginário da população, como a crença em lobisomem.

A loucura do pai acompanha o narrador, que tenta interpretar os “maus presságios” que o angustiam. 

Percebemos, também, que os cuidados excessivos da tia o aprisionam: “a minha vida ia ficando como a dos meus canários prisioneiros”, embora sua profunda e verdadeira afeição por ela. 

Como caminho para o menino tornar-se homem, seu avô resolve mandá-lo para o internato, finalizando essa primeira fase do ciclo da cana retratado pelo autor neste romance e nos subseqüentes.

Menino de engenho é uma leitura fluída e gostosa, que vai nos contextualizar com um período de nossa história e levantar questionamentos importantes sobre vários assuntos abordados na obra. 

O romance foi adaptado para o cinema em 1965 por Walter Lima Júnior.

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