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domingo, 26 de março de 2017

O livro que você me enviou nunca chegou. 
Nesse nosso canal energético 
parece haver um lugar onde as coisas 
se desmaterializam. 
A música que a gente ia fazer juntos 
ficou só nos nossos corações.
Como uma beleza que se guarda,
resiste a vir ao mundo,
tão delicada
que o excesso de oxigênio
dos pensamentos
poderia enferrujá-la.
Porque parece mesmo que o que quer que seja
que nascesse entre nós seria sem raiz,
uma flor que brotou no ar,
um sonho que a gente esqueceu.
Nunca chegaram tão perto de mim
os seus olhos,
o seu cheiro não sei adivinhar.
Você fica naquele lugar
onde eu guardo os meus livros preferidos
(mesmo o seu livro nunca tendo chegado para fazer parte da coleção).
Fica como nietzsche e maiakovski,
companheiros diários de filosofia.
O que nos separa são século.
Há um buraco negro engolindo os caminhos,
Há um espaço de rodas dentadas
triturando em particular invisíveis
tudo o que a gente tenta construir para se alcançar.
E no entanto, e mesmo assim,
existimos um no outro.


Clara Baccarin

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